Você conhece as origens, os propósitos e as conquistas dos Tropicalistas?
Ao som de Alegria Alegria, de Caetano Veloso (ouça aqui), te convido a dar uma rápida "espiadela" nesse episódio significativo da cultura brasileira.
O Tropicalismo, também conhecido por Movimento Tropicalista, surge em meados da década de 1960, formando um movimento cultural brasileiro que, sob a influência de correntes artísticas de vanguarda, mistura manifestações tradicionais da cultura brasileira gerando, assim, uma estética radicalmente inovadora.
Ao som de Alegria Alegria, de Caetano Veloso (ouça aqui), te convido a dar uma rápida "espiadela" nesse episódio significativo da cultura brasileira.
O Tropicalismo, também conhecido por Movimento Tropicalista, surge em meados da década de 1960, formando um movimento cultural brasileiro que, sob a influência de correntes artísticas de vanguarda, mistura manifestações tradicionais da cultura brasileira gerando, assim, uma estética radicalmente inovadora.
Durante a década de 1960, são quatro
as grandes tendências que constituem a música popular brasileira:
há os herdeiros da Bossa Nova (como Chico Buarque); os artistas da
chamada “Canção de Protesto”, que recusam os elementos da
música pop estrangeira e que viam a canção como instrumento de
crítica política e social (como Geraldo Vandré); os artistas da
Jovem Guarda (Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia),
influenciados pelo rock inglês e norte-americano (conhecidos no
Brasil como “iê-iê-iê”) e; finalmente, um grupo mais voltado
para experimentações estéticas, os Tropicalistas.
O começo do Tropicalismo se dá com a
reunião de uma série de artistas baianos, no contexto do Festival
de Música Popular Brasileira, promovido pela Rede Record em São
Paulo e Globo no Rio de Janeiro. As interpretações de “Alegria,
Alegria” de Caetano Veloso, ao lado de “Domingo no Parque”
interpretada por Gilberto Gil, na companhia de Os Mutantes, no ano de
1966, dão ensejo para a definição do Movimento Tropicalista. No
ano seguinte, em 1967, o festival foi integralmente considerado
tropicalista e neste mesmo ano foi lançado o disco Tropicália
ou Panis et Circense, que
pode ser considerado como um manifesto do grupo ou algo similar a
isso. Em 1966 Caetano Veloso declara que entre suas esperanças a
maior delas era a de “regenerar o tecido da MPB”.
As influências do Movimento
As transformações propostas pelo
Tropicalismo apresentam ressonâncias do Movimento Antropofágico,
formado por Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e
Anita Malfatti, Pagu e outros, nos anos de 1920 e 1930.
Digerir a cultura exportada pelas
potências culturais europeia e norte-americana, para regurgitá-las
após serem mescladas com a cultura popular e identidade nacional é
ponto comum entre os movimentos, com a diferença de que, no
Tropicalismo, além da cultura erudita, digere-se também a popular.
Assim, a proposta no tropicalismo consistia em deglutir todas as
tendências do entorno, sem critério, sem exceção.
O Tropicalismo também apresenta-se
como desdobramento do Concretismo, dos anos 1950, especialmente na
poesia concretista, isto é, havia, entre outras coisas, uma
preocupação de tratar os versos como um elemento plástico a ser
moldado, alterado, criando jogos linguísticos como um reflexo claro
do Concretismo.
As Características Estéticas
Musicalmente, o tropicalismo pode ser
visto como uma mescla de cultura popular, música erudita e rock
psicodélico, além de “cultura brega” citada por alguns como
característica do movimento. Com essa composição, o grupo dará
conta de realizar diversas manifestações da cultura nacional. O som
do violino, somado à guitarra elétrica e os berimbaus resgatavam a
essência do que fora proposto por Oswald de Andrade em seu Manifesto
Antropofágico: o retorno às raízes das tradições nacionais.
O grupo caracterizava-se também pelo excesso. As roupas coloridas e os cabelos compridos, as várias influências musicais agregadas em uma única melodia por vezes chocavam, sobretudo pelo ineditismo, e a violência estética das performances acabavam por protestar contra a música brasileira “bem comportada”, se assim pudermos chamar. Influenciados pela contracultura, esses artistas se utilizam, por vezes, de uma linguagem de paródia e de deboche.
Ao mesmo tempo, as letras das canções
eram inovadoras, além de codificadas – uma demanda de tempos de
ditadura – e por isso exigiam certa bagagem cultural para que
fossem compreendidas, muito provavelmente razão pela qual a recepção
nem sempre era positiva, sobretudo em suas primeiras apresentações.
"Alegria, Alegria" de Caetano Veloso, ao primeiro contato,
não tem um sentido óbvio, mas carrega em sua letra preocupações
típicas da juventude da década de 60: um tormento com a violência
da ditadura e um desejo de inovar e de romper barreiras.
O Fim do Movimento
Em 1969, Os Mutantes ainda realizaram
seu último concerto com Caetano e Gil, mas durante um espetáculo
ocorrido em uma boate carioca, “Sucata”, ocorreu o famoso
incidente da bandeira nacional que, aos olhos dos militares,
significou um desrespeito. A bandeira teria sido pendurada no palco
com a inscrição “Seja Marginal, Seja Herói” e a imagem de um
traficante famoso da época (“Cara de Cavalo”) e que fora
assassinado, violentamente, pela polícia. Esta imagem, na verdade,
era uma obra de Hélio Oiticica. Além disso, Caetano Veloso teria
cantado o Hino Nacional, inserindo nele versos ofensivos às Forças
Armadas.
Isso deu motivos para os militares
suspenderem a apresentação e mesmo prenderem Caetano e Gil que,
posteriormente, foram soltos e exilados no Reino Unido. Esse episódio
ficou marcado como o fim do movimento vanguardista, contudo, seus
integrantes deram continuidade as suas carreiras, obtendo sucesso e
popularidade nas décadas seguintes, e até os dias de hoje. A importância inconteste desse movimento, entre outras coisas, é a de ter despertado, quarenta anos depois, o projeto modernista da Semana de arte moderna de 1922, dando continuidade aos seus princípios básicos, agregando um novo elemento: inserir TODA a cultura, a local, a popular e a erudita, a estrangeira, a cosmopolita e a regional, etc. Serviu também para nos lembrar de um período importante do nosso desenvolvimento como povo e como nação, no âmbito artístico-cultural; para chamar nossa atenção para o que já foi feito, deu trabalho e não deve ser esquecido; para nos lembrar que olhar para trás é olhar para frente.