A emergência da modernidade nos remete a um dos períodos mais importantes da história ocidental: seu desenvolvimento significou profundas alterações para os diversos âmbitos da vida humana e está estreitamente ligado à Revolução Industrial. A esta Revolução1, que tem início na Grã-Bretanha em aproximadamente 1760, expandindo-se para vários países da Europa e Estados Unidos até meados de 1840, associa-se a transformação radical dos modos de produção que, substituindo os processos artesanais pelos fabris, a partir do uso crescente da energia a vapor, além da tecnologização sem precedentes dos processos de manufatura, altera definitivamente os modos de vida de seus contemporâneos. Este é o cenário a partir do qual florescerá a chamada Modernidade e cujos efeitos serão sentidos ao longo de todo o século XIX, não só no âmbito econômico, como é evidente, mas com reflexos importantes para a esfera sociocultural, incluindo-se aqui o espaço artístico. Deste modo, esta exposição pretende reconstruir, enquanto possível, o trajeto e o modo pelos quais uma nova realidade social contribuirá para transformações radicais na dimensão estética, na pintura francesa do século XIX, que inaugura o Modernismo Artístico. Este evento, que se mostra importante por simbolizar a quebra de um paradigma artístico milenar - de leis acadêmicas, rígidas e universais - está circundado por um conjunto de fatos históricos, sobretudo de cunho político-econômico, que importa resgatar.
Boulevard Montmartre in the night, 1897.
C. Pissarro.
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A emergência da modernidade nos remete a um dos períodos mais importantes da história ocidental: seu desenvolvimento significou profundas alterações para os diversos âmbitos da vida humana e está estreitamente ligado à Revolução Industrial. A esta Revolução1, que tem início na Grã-Bretanha em aproximadamente 1760, expandindo-se para vários países da Europa e Estados Unidos até meados de 1840, associa-se a transformação radical dos modos de produção que, substituindo os processos artesanais pelos fabris, a partir do uso crescente da energia a vapor, além da tecnologização sem precedentes dos processos de manufatura, altera definitivamente os modos de vida de seus contemporâneos. Este é o cenário a partir do qual florescerá a chamada Modernidade e cujos efeitos serão sentidos ao longo de todo o século XIX, não só no âmbito econômico, como é evidente, mas com reflexos importantes para a esfera sociocultural, incluindo-se aqui o espaço artístico. Deste modo, esta exposição pretende reconstruir, enquanto possível, o trajeto e o modo pelos quais uma nova realidade social contribuirá para transformações radicais na dimensão estética, na pintura francesa do século XIX, que inaugura o Modernismo Artístico. Este evento, que se mostra importante por simbolizar a quebra de um paradigma artístico milenar - de leis acadêmicas, rígidas e universais - está circundado por um conjunto de fatos históricos, sobretudo de cunho político-econômico, que importa resgatar.
As
Revoluções
Entre
os séculos XVIII e XIX, a França, como toda a Europa, se viu
envolta num turbilhão de acontecimentos, a maioria dos quais sobre
bases pouco ou nada pacíficas.
É
já nas primeiras décadas de Revolução Industrial que irrompe a
Revolução Francesa (1789-1799) onde a sociedade, profundamente
insatisfeita com uma Monarquia absolutista, buscava deslegitimar e
extinguir a hierarquia e os privilégios dos monarcas, dos
aristocratas e do clero. Esses
dois últimos grupos (ou Estados) oprimiam e exploravam o chamado
Terceiro Estado, constituído por burgueses, camponeses sem terra e
os chamados “sans-culottes”2.
Já o Rei, absoluto, que detinha um poder supremo e independente na
hierarquia dos Estados, tinha a última palavra sobre a justiça, a
economia, a diplomacia, a paz e a guerra, e quem se lhe opusesse
teria como destino a prisão da Bastilha (prisão política), que era
o grande símbolo da monarquia francesa e que foi um dos primeiros
alvos dos revolucionários.
A
Queda da Bastilha deu-se em 14 de Julho de 1789 e marcou o início do
processo revolucionário. Três anos mais tarde, em 1792, a Primeira
República Francesa já teria sido proclamada pelo povo francês. Os
anos seguintes à Revolução Francesa foram dominados por lutas
entre vários grupos: girondinos, montanheses, monarquistas, membros
da burguesia conservadora e outros. É o golpe do 18 de Brumário (em
9 de Novembro de 1799) que põe fim à Revolução, iniciando-se a
Era Napoleônica, a que se seguiu a Ditadura e o Império de Napoleão
Bonaparte.
Esta
revolução, junto a outras, nos mostra o aspecto conflitivo da
política na sociedade francesa, já de longa data, ecoando na virada
do século XVIII para o XIX, nos anos que preparam o terreno da
chamada Modernidade. Cumpre
ainda lembrar que foi à luz do pensamento Iluminista (representado
por Voltaire, Rousseau, Diderot e outros) que se montou a reavaliação
das bases jurídicas do Antigo Regime, culminando na sua derrubada.
Evento importante na formação da era Moderna, é o Iluminismo que
inspira, também, os princípios de Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, evocados na Revolução Francesa.
Na
sequência da Revolução Francesa, entre motins e barricadas,
ocorrem ainda a Revolução de 1830 e a Revolução de 1848, que não
se limitou as fronteiras da França, espraiando-se por países da
Europa Central e Oriental3.
Esta, contestando os regimes autocráticos, a crise econômica e a
falta de representação política das classes médias e minorias,
foi a onda revolucionária mais abrangente da Europa, embora em menos
de um ano forças reacionárias tenham tomado novamente o controle e
eliminado as revoluções em cada nação.
No
caso da França, onde a revolução irrompe, a situação política
encontrava-se, já em 1845, bastante agravada por uma crise econômica
que se deu pela escassez de alimentos. A revolução inaugura-se,
conforme explica o historiador Jacques Néré, “no meio e em
consequência de uma longa depressão, agrícola e industrial ao
mesmo tempo”. Os anos de 1845 e 1846 foram de péssimas colheitas,
desencadeando uma crise agrícola em todo o continente; na Europa
ocidental foi a má colheita de trigo que desencadeou uma série de
revoltas camponesas, já na França a má colheita foi provocada pela
chamada “praga da batata”. Essa crise desencadeou uma alta
vertiginosa do custo de vida, jogando à miséria grandes setores da
população rural e reduzindo drasticamente a sua capacidade de
consumo. Em 1847 a situação agravou-se ainda mais com a queda dos
salários e o encerramento de inúmeras unidades fabris. Indignados
com a situação, os revolucionários reuniam-se em diversas
ocasiões, entre as quais se destacou o banquete público da oposição
de 22 de Fevereiro de 1848.4
Centenas de milhares de insatisfeitos com o desemprego, ainda que sem
um programa político claro, punham-se de acordo sobre um ponto: a
necessidade de derrubar o governo do rei Luís Filipe, seus ministros
e o sistema econômico que os enriquecia, à custa dos trabalhadores.
Em 23 de Fevereiro, o centro de Paris estava cheio de barricadas que
assustaram os burgueses da oposição. O que eles temiam – a
revolução das massas - tornava-se realidade. As ruas de Paris eram
tomadas por um contingente de 40 a 50 mil manifestantes, sendo que
muitos foram mortos e cerca de 15 mil foram presos. Na tarde de 24 de
Fevereiro já corriam proclamações republicanas e a Luís Filipe
só restava abdicar o trono. O Parlamento dissolveu-se e a Monarquia
foi destronada. Nascia a Segunda República (1848-1852). No mesmo
ano ocorrem ainda as Jornadas de Junho que, de acordo com J. Néré,
conferem às revoluções de 1848 um estado “genuinamente
revolucionário”.
Esses
são alguns exemplos que nos permitem vislumbrar a situação
política do período, em que a miséria e a desigualdade social
estiveram sempre na origem dos muitos motins e revoluções que
ameaçaram os poderes instituídos e seus projetos sociais, políticos
e econômicos. No caso da França pós-revolucionária (pós 1848),
em que uma terceira revolução importante estava ainda por acontecer
- a Comuna de Paris, em 1871 - as revoltas e as barricadas se
sucediam, tornando-se cada vez mais comuns. Chegando a repetir-se
nove vezes no decorrer de um quarto de século, conforme constata o
historiador norte-americano O. Friedrich5,
a questão tornou-se uma preocupação fundamental para os dirigentes
e governantes franceses.
O
segundo império e as Reformas de Haussmann
Sufocada
a Revolução de 1848, a França entra em um novo ciclo, com a subida
ao poder de Napoleão III, sobrinho de N. Bonaparte. Com ele, nasce o
Segundo Império Francês (1852-1870), período em que se dão as
reformas de Haussmann e também profundas transformações na capital
francesa.
A
chamada haussmanização
visava não só operar uma reurbanização da cidade, mas também
conter as insurreições, tão recorrentes em território francês,
sobretudo parisiense. Assim, pode-se pensar o projeto de Napoleão
III, cujos ideais aliavam-se aos do Barão de Haussmann, como um
projeto de cunho político e militar, além de estético.
A
tomada de poder por Napoleão III se deu com um golpe de Estado
executado em dezembro de 1851. Seu regime é marcado desde o início
por resistências e repressões brutais, tendo o aparato policial e
sobretudo as repressões de 1852 marcado profundamente a população.
Autoritário, o imperador afirmava ter encontrado uma França
“humilhada, isolada e mutilada” e que era preciso “devolver-lhe
a glória, as alianças e as províncias de que fora defraudada” 6
.
Com
efeito, o Segundo Império coincide com uma fase de crescimento
econômico importante na França. A população havia crescido nas
aglomerações urbanas e com ela o progresso da agricultura e da
indústria. Somado a isso, crescem os meios de transporte, a
instalação de crédito e as trocas (importações e exportações),
que aumentavam significativamente. Contudo, é o conjunto de obras
públicas que irá simbolizar, na forma mais visível, a prosperidade
econômica. A paisagem francesa, de modo geral, se altera sob
Napoleão III. A plantação dos pinheiros, os postes telegráficos,
os diques alargados, os cais reformados, a instalação das estações
ferroviárias (a maioria delas data do Segundo Império) e
principalmente os novos bairros construídos sobre os escombros de
casas velhas, são característicos dessas mudanças7.
As reformas mais importantes são as que Paris testemunha entre os
anos de 1853 e 1869 sob a direção do Barão de Haussmann, e que, de
algum modo, constituirão o mote, e também o palco, da pintura
moderna.
Ao
longo desses anos, Haussmann derrubará os velhos bairros do centro
parisiense, sob o pretexto de serem, embora pitorescos, bastante
insalubres, providenciando em seu lugar as longas e retilíneas
avenidas: os grandes bulevares. Ocorre que os grandes alvos da
demolição eram não só os bairros mais insalubres, mas também os
mais “turbulentos”, isto é, os mais propensos às revoltas
políticas. As reformas urbanas capitaneadas por Haussmann tinham
também o objetivo de “limpar” os cortiços e as
“casas-pântanos”, onde rebeldes erguiam as barricadas
e a
construção dos bulevares visava, sobretudo, facilitar o fluxo das
tropas para a defesa e contenção dessas ameaças revolucionárias
8.
O plano de Haussmann, que contemplava também a reforma urbana, a
saúde e a segurança públicas, com sua meta de “destruição
sistemática de becos infectados e focos de epidemias” 9,
não
limitava-se a isso. Aliado ao objetivo político-militar, o prefeito
do Sena, que se definia como um “artista-demolidor”, revelava
ainda um “desejo de embelezamento” 10.
Melhorando o sistema de esgotos, Haussmann instala centenas de marcos
fontanários que propiciam água limpa à população, constrói
parques importantes e grandes jardins; implanta
por toda a cidade
árvores que a tornam mais clara, arejada e bela. Além
disso prestigia a cidade com a famosa Ópera e algumas igrejas,
estetizando ao seu gosto (e ao do Imperador) a capital francesa, que
servirá, por muitas décadas, de modelo a outras capitais do mundo.
Em dezesseis anos Haussmann gasta 2.5 bilhões de Francos, destruindo
grande parte dos cenários tradicionais da cidade, ao substituir
edifícios históricos por suas “cópias estilísticas”, como
denominaria o arquiteto e historiador italiano L. Benevolo
11.
Champs-Élysées e Arco do Triunfo, 1906 Photos NPG (Neue Photographische gesellschaft) Steglitz-Berlin |
Os
Bulevares e o Lazer – um novo tema para a pintura
A
reurbanização operada por Haussmann significou, ainda que não para
todos 12,
um
aumento na qualidade de vida, uma vez que o lazer passou a ter um
lugar mais destacado no cotidiano. Paris sofre
transformações radicais que alteram a vida local e que se tornam
objeto da pintura francesa, tais como: as estações de trem e os
jardins, os parques, os cafés, os bordéis, os bares, os teatros e a
vida boêmia em geral, permitida pela eletricidade que passa a
iluminar as avenidas - os becos escuros e úmidos de outrora -
e,
sobretudo, os bulevares, espaço em que se reúnem os elementos
acima.
A
conjunção desses fatores contribuiu para uma intensa movimentação
da vida parisiense: vê-se uma sociedade em plena mutação e o
otimismo geral, com os ares de prosperidade (que prometia o projeto
da modernidade), é o que permeia o imaginário da época, inclusive
dos artistas.
A
esse respeito, o historiador da arte M. Schapiro explica que o século
XIX testemunhou uma “revolução” da visão - coletiva e
individual. Na cidade de Haussmann, projetada para efeitos “estéticos
e recreativos”, a construção de novos espaços de lazer (como os
parques e os bulevares) permitia um “deleite” com o ambiente, de
modo a desenvolver
no parisiense o que o autor chama de “volúpia do olho” ou “a
paixão pela visão”: trata-se não só dos espaços verdes como
também do prazer proporcionado pela observação das multidões nos
bulevares da cidade, que se assemelhavam, segundo o autor, a
verdadeiros “formigueiros” ou “oceanos”. Essas transformações
estariam na origem de pinturas que se debruçam sobre o que Schapiro
denomina de “momentos
estéticos” da
vida diária. Referindo-se ao impressionismo, o autor afirma que a
arte passava a privilegiar, cada vez mais, “as agradáveis ocasiões
estéticas no ambiente público, com suas conotações de prazer e
liberdade” 13.
Pintar
pessoas, lugares e coisas (as “vistas contemporâneas e os lugares
comuns”) seria, pois, resultado do ineditismo e das possibilidades
da grande capital, e mesmo de certa “consciência da multidão
sobre si mesma” 14,
como se pode ver em Boulevard
des Capucines,
de C. Monet (Fig. 5), que privilegia esse prazer da multidão, e do
movimento.
O término das reformas de Haussmann (fins dos anos 1860, início dos 1870) coincide com o surgimento da estética impressionista. Trata-se de uma nova imagem da cidade, legada pelas reformas, que estimulava uma nova forma de arte, e que se orientava pelos aspectos testemunhados na chamada “vida moderna”: o movimento, a velocidade, o efêmero, o fugidio, mas também o simples cotidiano, o trivial, o circunstancial – como recomendou o poeta e crítico de arte C. Baudelaire (1821-1867), figura fundamental, cumpre citar, na constituição do modernismo artístico 15.
Boulevard des Capucines, 1867. C. Monet |
O término das reformas de Haussmann (fins dos anos 1860, início dos 1870) coincide com o surgimento da estética impressionista. Trata-se de uma nova imagem da cidade, legada pelas reformas, que estimulava uma nova forma de arte, e que se orientava pelos aspectos testemunhados na chamada “vida moderna”: o movimento, a velocidade, o efêmero, o fugidio, mas também o simples cotidiano, o trivial, o circunstancial – como recomendou o poeta e crítico de arte C. Baudelaire (1821-1867), figura fundamental, cumpre citar, na constituição do modernismo artístico 15.
Schapiro
salienta, entretanto, como essa “volúpia” dos impressionistas
foi criticada por seus contemporâneos: os jovens pintores eram
“essencialmente olhos” que; distanciados dos problemas de seu
mundo, eram “indiferentes às experiências difíceis da vida
social e careciam de qualquer noção das grandes lutas da época”
16.
Com efeito, a
pintura impressionista, como observou o historiador da arte T. J.
Clark, é essencialmente um registro da vida burguesa. Os pintores da
“vida moderna” são, eles mesmos, filhos da burguesia (de
banqueiros, de artistas, etc) e estão profundamente inseridos nesse
“espírito de época”.
Eles representam a camada privilegiada pela reurbanização de
Haussmann e exprimirão, em sua arte, com entusiasmo evidente, o
espetáculo da nova metrópole. De qualquer forma, cada um a seu
modo, os novos pintores irão conferir maior atenção às cenas da
vida cotidiana e às pessoas comuns (o cidadão), em detrimento dos
deuses e da nobreza, predominantes até o Romantismo: passo
significativo na história da arte, realizado pelos impressionistas
17 -
os “filhos” da Paris modernizada.
A
esse respeito cumpre lembrar que já nos românticos ingleses, W.
Turner (1775-1851) e J. Constable (1776-1837) era possível notar uma
originalidade estética e uma tendência modernista, em suas
representações de locomotivas e vapores, e na contemplação da
simples paisagem. Além disso, também os Realistas tiveram papel
importante na formação dos impressionistas, com sua exaltação da
realidade, da vida cotidiana, da gente simples e do trabalhador,
especialmente G. Courbet (1819-1877) 18.
Somado
a essas inspirações, os impressionistas vivem ainda a experiência
da fotografia que, a partir do seu surgimento em 1839, transforma
significativamente o olhar, trazendo aos olhos a beleza do exterior e
estimulando “o
apetite do público por imagens da vida cotidiana parisiense”,
segundo
observação de W. Gompertz, pois seus resultados indicariam a beleza
das cenas “efêmeras e triviais”, como dignas – também - de
serem retratadas19.
Ainda
sobre o impressionismo, importa citar que, segundo Argan, embora não
obedecessem a um programa precisamente estabelecido ou
compartilhassem uma ideologia comum, mostrando-se já influenciados
pelo princípio fotográfico, esses artistaspunham-se de acordo sobre
alguns pontos fundamentais: “a orientação realista; a aversão
pela arte acadêmica; o total desinteresse pelo objeto –
preferência pela natureza morta e paisagens; a recusa dos hábitos
de ateliê […] e o trabalho en plein-air”.
Esses princípios constituiam certa desobrigação das convenções
acadêmicas e, portanto, a liberação delas 20.
É
possível notar, pois, que a nova geração de
pintores soma à atitude inspirada pela geração precedente os
recursos e as possibilidades do contexto em que vivem, naquela
segunda metade do século XIX. Foi testemunhando não só as reformas
de Paris, como também o impulso industrial e as novas tecnologias
(profundas alterações visuais) que, imprimindo em suas telas a
imagem e o vigor de sua realidade, permitiram uma inovação temática
para a pintura, inédita e profícua. Com ela rompeu-se
definitivamente com a tradição, emancipando-se, dessa forma, o
artista dos cânones históricos, da Academia de Belas
Artes e
de toda a inflexibilidade de seus preceitos clássicos,
para fundar, assim, as bases da arte moderna
21.
A
nova imagem da cidade aguçava o olhar do indivíduo e os artistas
foram a prova disso. Segundo Schapiro, foi a dinamização ou a
alteração de fontes visuais, que suscitou a atração dos pintores
pelas cores do ambiente 22
e, no limite, mostrou-se o mote para uma nova estética. Alguns se
concentraram em retratar os parques e jardins (como Monet e Renoir),
outros a vida noturna (como os bares em E. Degas e os cabarés em H.
Toulouse-Lautrec), e outros os bulevares e toda a vida pulsante que
eles traziam. Entre os impressionistas que contemplam os bulevares,
C. Monet, C. Pissarro, Renoir (ver Fig. 6, Fig. 7, Fig. 9) são
exemplos interessantes dessa influência
(dessa mudança na percepção) visual que operava em sua
contemporaneidade artística. Embora eles não tenham limitado seu
trabalho à representação exclusiva dos bulevares, suas obras nos
permitem vislumbrar o que esses grandes espaços de interação,
social e econômica teriam representado à época.
Os
bulevares parisienses - o legado de Haussmann - exercem, pois, um
papel particularmente importante na constituição da arte moderna,
por “abrigarem”, como visto, o conjunto de elementos que formam o
grande espetáculo da cidade moderna: constituem-se não só de
avenidas, mas a isso soma-se ainda o movimento frenético dos
pedestres, as árvores, a luz elétrica e os estabelecimentos de
interação, já citados. Marshal Berman corrobora essa hipótese ao
afirmar que o modernismo artístico, começando com os
impressionistas, teria se nutrido fortemente “da vida e da energia
que escoavam ao longo dos bulevares”, os quais, ele destaca, eram
“altamente revolucionários”, “a mais espetacular inovação
urbana do século XIX […] ”. Seu conjunto de observações, em
Tudo
que é sólido desmancha no ar - A aventura da Modernidade,
designa
o boulevard
como o espaço de “fantasia a propósito da multidão”; um
“interminável desfile de estrangeiros”; uma realidade que se
tornava “mágica e sonhadora”; um espetáculo que seduzia os
olhos e os “sentidos” 23.
Ele explica ainda que, ao estabelecer novas condições de mobilidade
na cidade, os bulevares propiciavam uma nova experiência para as
massas urbanas, sendo o “caos” da vida cotidiana – isto é, o
novo “tráfego” - o símbolo primordial de uma época, e do qual
o artista irá se apropriar livremente para “unir a arte à vida”
24.
Nas
obras selecionadas, em que os bulevares são privilegiados, o
movimento e o novo tráfego de que fala M. Berman confirmam-se como
“protagonistas” das telas, de modo que nos parece autorizado
pensar que a “solução” dada por Haussmann às barricadas, no
papel dos próprios bulevares e todo o redesenho da cidade, acabou
por sugerir o novo assunto da pintura francesa - a cidade, de modo
geral - tão decisiva para o nascimento de uma nova estética.
Quai
du Louvre,
de C. Monet (Fig. 6) e Le
Pont Neuf,
de P. Renoir (Fig. 7) foram produzidas no auge das reformas e
ilustram bem a descrição de M. Berman. Nelas pode-se sentir, em uma
palavra, a beleza passageira e fugaz da vida moderna, além de um
clima que se divide entre o entusiasmo e a vertigem, que traziam os
novos tempos.
Finalmente,
falando sobre a técnica desenvolvida pelo impressionismo, nota-se
que também ela é proveniente da renovação temática, pois o
efeito “acelerado” de sua pincelada é motivado por uma vontade
de retratar não só o movimento (o “novo tráfego”), mas também
o elemento atmosférico, outro “sujeito” da pintura
impressionista (como o tom instável da sombra, cambiante conforme o
movimento do sol ou a fumaça dos trens e das chaminés de fábricas,
entre outros), que demanda agilidade, se se quiser visualizar em
tempo real o objeto retratado. Isto quer dizer que a apreensão
rápida do instante ou de um “acontecimento” atmosférico
implicava, de certo modo, na dissolução das formas, e aí se insere
uma nova estética. Pode-se notar essa característica, por exemplo,
na série da Catedral
de Rouen
e La
Gare Saint Lazare (Figuras
A e B),
de
C. Monet. Também Boulevard
Montmartre à noite
(Figura 10), de C. Pissarro, revela o desejo do pintor em captar um
momento preciso da noite, a cor, o efeito das luzes e o fugidio, em
Paris.
Série
Catedral de Rouen (1894). C. Monet. M D'Orsay.
Estação
Saint-Lazare, (1877). C. Monet. M. D'Orsay.
A Contrapartida
Há
que se considerar que as conformações estéticas, forçadas pela
haussmanização,
dividiam opiniões. A paisagem adquirida com os grands
travaux parisienses
que, por um lado, propiciou a própria imagem da modernidade e foi,
por quase um século, um deleite para os cidadãos, tornou-se também
objeto de crítica das mentes mais conservadoras, especialmente entre
os intelectuais. A regularidade e a simetria da cidade projetada por
Haussmann eram consideradas “vulgares e fastidiosas” por
escritores diversos, como H. Balzac, Victor Hugo e C. Dickens que,
entre outros, preferiam o aspecto “confuso, misterioso e integrado”
da Paris antiga. C. Baudelaire, embora fosse um entusiasta da
modernidade, também olhava com suspeita para as transformações
radicais que testemunhava, temendo que a cidade mudasse, teria dito o
poeta, “mais rapidamente do que o coração do homem”25.
Mas
este não foi o maior problema. Muito mais
grave teria sido o custo humano que a haussmanização
implicou: milhares de habitantes foram despejados de Paris e,
desamparados e expulsos dos bairros a que pertenciam
tradicionalmente, foram obrigados a se instalarem nos arredores da
cidade, em condições ainda mais precárias do que as que se
encontravam anteriormente.
Segundo
estimativas do próprio Barão de Haussmann, citadas por T. J. Clark,
350 mil pessoas teriam sido desalojadas para a construção dos
bulevares e espaços abertos26.
Os bulevares, que devastavam a cidade, eram, na expressão de O.
Friedrich27,
não só um monumento, mas também uma “acusação”. A beleza
geométrica vista do Arco do Triunfo, que muitos admiram hoje, se
deu, pois, às custas de muitas vidas e desilusões de parisienses
que assistiam a sua cidade ruir.
Paris,
(déc. 1860).
(fotografia
de Charles Merveille)
Arco
do Triunfo, Paris, (déc. 1990).
Vale
lembrar que no Brasil houve projeto similar com a chamada “Ditadura
Passos” na cidade do Rio de Janeiro (que se viu tão inspirada pela
França na virada do século XX), entre os anos de 1902 e 1906,
também conhecida por “Regeneração”, na prefeitura de
Franscisco Pereira Passos e que consistia em feito análogo à
haussmanização: um
desejo de “limpeza” e estetização da cidade, com enormes custos
humanos para a população local28.
No
caso parisiense, Clark reconhece que a haussmanização teria
“presenteado” a pintura “com problemas e oportunidades” 29.
No que diz respeito às oportunidades, ele refere-se a pintura
impressionista, que se valerá dos novos espaços (que para Clark
“ocultam” a história) para desenvolver sua poética mais lírica
e fantasiosa. Ao lado desses, contudo, há também os pintores que
captaram os “problemas”. As obras de J. Béraud, pintor francês
do período imediatamente posterior às reformas, nos chamam atenção
para este lado, isto é, para as questões negligenciadas pelo
projeto de Haussmann. Embora datem já das últimas décadas do
século XIX, podemos ver nessas obras o desdobramento de uma
reurbanização que se mostrou menos comprometida com o cidadão do
que com as questões político-econômicas. La
Sortie Du Bourgeois
(1889) denuncia uma cidade cindida entre burgueses e mendicantes.
La
Sortie Du Bourgeois, (1889). Jean Béraud. (coleção particular)
Fiacre
Place de La Concorde (c. 1890-1895). Jean Béraud. (coleção
particular)
Ainda
Fiacre,
Place de La Concorde, também
de J. Béraud,
nos
permite um olhar sobre os contrastes da vida moderna.
É
nesse sentido que o historiador da arte T. J. Clark avalia com
suspeita o objetivo da estética impressionista que, a seu ver,
ocupou-se de reforçar uma imagem de progresso que só parcialmente
correspondia à realidade do parisiense. Ele aponta para uma
“crescente estetização e consequente despolitização”, que
teriam servido para sustentar o “mito da modernidade”, que se
quis vender. Também M. Schapiro, outro importante historiador da
arte, afirma que as imagens
felizes de Paris, criadas pelos impressionistas, não eram um reflexo
da realidade, mas uma “seleção de momentos ideais” 30.
A
problematização de Clark consiste em chamar atenção para o fato
de que, se por um lado houve “espetáculo”, por outro houve
sofrimento, observando que a modernidade de Haussmann fora
“repressiva” e, não obstante, houve pintores que colaboraram, em
sua expressão artística, para o ocultamento desse lado obscuro de
seu projeto. Clark afirma ainda que Haussmann era, na verdade,
bastante impopular na Paris de sua época e descreve seu projeto como
“uma brutalidade”, destacando a “eficácia germânica”, com
que a cidade fora transformada 31.
Para o autor, de orientação claramente marxista, não se pode
perder de vista que, com as reformas de Paris, o terreno também era
preparado para a “sociedade do consumo” 32 :
a reificação do lazer, que servia de inspiração aos novos
pintores, servia também ao mecanismo econômico. Essa
comercialização do lazer forçava um “padrão de diversões”, o
que estabelecia a “formação de classes” e também o controle
das mesmas. É sobretudo essa perspectiva, do lazer e da cisão
crescente entre burguesia e classes populares, e a decorrente disputa
por espaços que, segundo Clark, explica as
transformações sofridas no tema da pintura a partir de 1860 33.
Das
Barricadas aos Bulevares
Nas
obras indicadas identifica-se certa oposição na abordagem dos
diversos pintores e suas representações. Observando as primeiras
obras (figuras 1 a 5), nota-se que Eugène
Delacroix, Horace Vernet e Jean Baptiste L'Allemand nos permitem
vislumbrar a Paris que antecede as reformas de Haussmann, isto é, a
Paris das Barricadas. Note-se que o ambiente é sempre escuro,
turbulento, nebuloso, tomado por fumaça e pólvora, além do
espírito revoltoso e agressivo que transmitem os personagens. Eles
serão substituídos radicalmente, pelos primeiros impressionistas,
como C. Monet, C. Pissarro e Renoir (figuras 5 a 14), poucas décadas
depois, por um ambiente quase sempre ensolarado, próspero e
civilizado; uma Paris bela e organizada, onde árvores e charretes
aparecem no lugar de armas e canhões. O movimento nos bulevares
indica ascensão: o deslocamento e a interação dos civis na cidade
sinalizam que haveria, então, “um lugar” na sociedade para cada
indivíduo; todos parecem ter trabalho e consumir; frequentam os
teatros, os cafés, permitem-se a flânerie
(o passeio desinteressado), etc.
Eles nos conduzem, enfim, a pensar uma Paris que, substituindo a
tensão revolucionária pela confiança no progresso (no projeto da
modernidade), seria prova de que a solução pensada para as
barricadas teria triunfado, pois a Paris de Haussmann tornara-se, de
fato, pacífica e agradável.
Entretanto,
como nos alerta Clark, e bem retrata J. Béraud, havia toda uma
classe negligenciada que coloca em dúvida as “benesses” da
reurbanização parisiense “elogiada” pelos impressionistas. Jean
Béraud é um dos poucos artistas que acolhe essa classe, embora ele
próprio pertencesse à burguesia. Como visto, algumas de suas obras
nos revelam que se o projeto de Haussmann fora eficiente no aspecto
arquitetônico, estético e militar, um detalhe grave lhe escapou: o
fator humano. O pintor nos mostra que, embora as alterações
visuais, o embelezamento e ordenamento, obtidos na cidade fossem um
fato, as classes mais pobres foram abandonadas à própria sorte, e a
miséria, em vez de tratada, teria sido apenas removida do centro,
como um objeto indesejável no cenário, para as margens da cidade, o
que faria dos bulevares, como dirá M. Berman, um “símbolo das
contradições interiores do capitalismo” 35.
No entanto, há que se considerar que os mesmos bulevares abrigavam
um “acervo de fisionomias”, como salienta Clark, e de personagens
que só com eles poderiam nascer, isto é, com a reurbanização da
cidade surge um “repertório” de tipos, gestos e expressões36
que eram específicos daquele espaço e representavam genuinamente
seu século. É desse modo que, como produto da cidade moderna, os
bulevares possibilitaram o edifício de um novo assunto, significando
uma nova página na história da arte ocidental e daí o destaque de
seu papel nesta reflexão.
Com
isso, pode ser traçado um possível percurso histórico para a arte
moderna, que teria início nas obras de Delacroix e sua denúncia de
uma cidade truculenta, passando pelos impressionistas e sua poesia no
registro lírico da Paris de Haussmann, até chegar em Jean Béraud,
já nas décadas de 1880 e 1890 (anos em que se vê um declínio da
confiança na modernidade)37
e seu registro ponderado sobre
os desdobramentos da reurbanização, possibilitando, dessa forma,
uma avaliação crítica de seus resultados. As obras nos propõem
uma reflexão distinta, problematizando os elementos controversos a
respeito desse trajeto, que significou o próprio nascimento da arte
moderna: o trajeto das barricadas aos bulevares.
De
todo modo, o que importa destacar,
entretanto, é que, a
despeito dessas diferenças, o que fizeram todas elas juntas, nesse
“debate” indireto, foi construir, passo a passo, o edifício da
arte moderna. Note-se que o que já está presente em Delacroix
(embora não só nele) e ganhará força nos seus sucessores, é a
vontade crescente de retratar uma realidade visível, que falasse das
coisas mundanas e que, por consequência, privilegiasse a figura do
homem - do homem comum. Assim, ancorados na noção de que a arte se
entrelaça, frequentemente, com os processos históricos, podemos
pensar que, neste recorte (França, século XIX), foram dois os
processos em que o homem se coloca no centro, buscando
desvencilhar-se de autoridades opressivas. Na virada e início do
século XIX testemunhou-se, na esfera política, todo o ímpeto da
Revolução Francesa e suas reivindicações populares. O
deslocamento de poder que resultou deste processo político
assemelha-se, no ambiente artístico, à recusa pelos artistas, meio
século depois, da autoridade e opressão que significavam as
convenções acadêmicas.
A esse respeito, e para finalizar, vale lembrar a conclusão de
Schapiro, que diz:
“A
experiência da emancipação das velhas formas [...] é o que mudou
o aspecto da vida e a perspectiva de felicidade das pessoas […] as
novas oportunidades foram símbolo de uma liberdade recém-conquistada
e do sonho de um futuro” 38.
Bibliografia
ARGAN, G. C. Arte
Moderna. São Paulo,
Companhia das Letras, 2013.
BAUDELAIRE, Charles.
O Pintor da vida moderna.
São Paulo: Ed. Vega, 2013.
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Cidade na Historia da Europa. Lisboa:
Editorial Presença, 1993.
BERMAN, Marshall. Tudo
que é sólido desmancha no ar -A aventura da Modernidade. São
Paulo: Cia. Das Letras, 1990.
CALABI, Donatella.
História do urbanismo
europeu.
São Paulo: Perspectiva, 2012
CHARNEY, Leo. & SCHWARTZ, V. L.
O cinema e a invenção da
vida moderna. São Paulo:
Cosac & Naify, 2004.
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Pintura na vida moderna. São
Paulo: Companhia das Letras, 2004.
COLI, J.
Bom dia, senhor Courbet!
In:
NOVAES, A. (org.), Ética,
São Paulo: Cia das. Letras, 2007.
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dos impressionistas. São
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Rio de Janeiro, Ed. Guanabara, 1988.
GOMPERTZ, W. Isso
é arte?.
Rio de Janeiro, Ed. Jorge Zahar, 2013.
F. MATHEY - O
impressionismo (Cacém:
Editorial... ??, 1972)
NÉRÉ, Jacques. História
Contemporânea. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.
PICON, Gäetan. 1863:
Naissance de la peinture moderne. Genebra:
SKIRA, 1974.
SCHAPIRO, Meyer. Impressionismo.
São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
SEVCENKO, Nicolau. A
Revolta da Vacina. São
Paulo: Brasiliense, 1988
NOTAS
1 1
Para alguns historiadores o termo “Revolução” não é o mais
apropriado. Trata-se antes de um processo, que se deu gradualmente
(ao longo de quase um século), não mostrando-se, pois,
efetivamente uma revolução no sentido forte da palavra. Para
Jacques Néré, não se pode datar precisamente a “arrancada” do
crescimento econômico no caso da França, mas o processo
acentuou-se por volta de 1840. NÉRÉ, 1991,
p. 90.
2 2
Camada
heterogênea composta por artesãos, aprendizes e proletários, eram
assim denominados pela calça simples que usavam, diferentes dos
tecidos finos, utilizados pelos nobres. Ibid.,
p. 96 et.
seq.
3 3
De acordo com Jacques Néré, de Paris o movimento teria se
estendido como uma série de ondas, sobretudo à Alemanha, à Itália
e ao Império da Áustria. Ibid.,
p. 98.
4 4
Ibid.,
p. 99.
5 5FRIEDRICH,
1993, p. 142.
6 6Conforme
aponta J. Néré, 32 departamentos são colocados em estado de sítio
e mais de 26 mil pessoas são presas, milhares de pessoas são
internadas, exiladas ou desterradas. O autor acrescenta ainda que
tal repressão policial, que inaugura a era de Napoleão III, marca
os republicanos que lhe votam “um ódio implacável e duradouro”
que perdurará até a IV República. NÉRÉ,
op.
cit.,
p. 105.
7 7
Ibid., p. 113.
8 8CALABI,
2012 , p. 172 et.
seq.
12 12Conforme
explica Néré, as pessoas mais abastadas concentraram-se no Oeste
de Paris, ao passo que as mais pobres viram-se obrigadas a
pilharem-se no Leste. Essa massa de pobres, acrescenta o autor,
despidos de seus direitos, formariam uma espécie de “pano de
fundo que explica a Comuna de 1871”.
NÉRÉ, op.
cit.,
p. 113.
13 13SCHAPIRO,
2002, p. 102.
15 15Em
seus ensaios Escritos
sobre Arte
e O
Pintor da Vida Moderna,
referindo-se às exposições dos Salões de Paris (sobretudo no
segundo ensaio), C. Baudelaire critica a arte passadista, que
cultuava os cânones clássicos em detrimento do tempo presente. Em
suas críticas, cunha o termo “Modernidade” e convoca a classe
artística a retratar seu próprio tempo (os hábitos e a moda
presente, o cotidiano, o circunstancial), para que ele seja, um dia,
“digno” de virar história, tal qual fizeram os clássicos. C.
BAUDELAIRE, 1997, p. 18.
16 16SCHAPIRO,
op., cit.,
p. 320.
17Nesse
sentido, o crítico de arte francês Gaëtan Picon, comentando que
havia uma “verdade burguesa” com a qual a nova pintura (moderna)
teria relação, afirma que havia um “gênio burguês” que
rompia com “a idealização, o heróico, o passado, o imaginário”,
tão perseguidos até o Romantismo, e que mostrava uma “energia
lúcida”, que queria “conquistar e explorar a terra”.
Acrescenta
ainda que na França o que ocorreu é que se decidiu a favor do novo
mundo “onde as coisas são aquilo que elas se tornam […] num ato
de trabalho, sem nostalgia de uma significação transcendente”.
Em uma palavra, ser moderno era “manter os olhos abertos”, sem
“retornar”. PICON G. 1974, p. 48 a 69.
18 18COLI,
2007.
19 19GOMPERTZ,
2013, p. 36.
20 20ARGAN,
2013, p. 75.
21 21Para
F. Mathey, a arte francesa do séc. XIX teria inaugurado as
descobertas modernas e seu princípio de liberdade. MATHEY, 1972, p.
141.
22 22M.
Schapiro diz: “Essa volúpia do olho, em suas formas parisienses
especiais, foi uma condição (e nada leve) para o crescimento de
uma sensibilidade pública próxima à dos impressionistas […]
havia em Paris mais do que em qualquer outra cidade uma cultura
autônoma do olhar, um deleite cultivado com o visual e abundância
de novos meios inventados para a sua satisfação”. SCHAPIRO, op.
cit.,
ps. 102,167.
23 23BERMAN,
1990, p. 147.
25 25BENEVOLO,
op. cit.,
p.186.
26 26CLARK,
2004, p. 77.
28 28
SEVCENKO, 1984.
29 29
CLARK, Op.
Cit.,
p. 122.
30 30
SCHAPIRO, op.
cit.,
p. 137.
31 31
CLARK, op.
cit., p.
82.
35 35BERMAN,
op.
cit.,
p. 154.
37 37M.
Schapiro afirma que, para a nova geração (1885-1890), os valores
que nas décadas de 1860 e 1870 induziram a uma atitude “mais
confiante”, de força e alegria, por volta de 1885 se tornavam
“obstáculos ao conhecimento de si mesmo e à compreensão da
sociedade”. Atitudes coletivas e os “problemas da vida social”
teriam emergido na década de 1880
de uma maneira clara,
“afetando os artistas mais conscientes da geração seguinte e
fazendo com que uma nova arte se concretizasse”. SCHAPIRO, Op.
Cit., p. 335.
38 38Ibid.,
p. 278.
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