Laocoonte - Museu do Vaticano |
A arte deve ter estado presente em todas as
épocas da humanidade, desde que definamos como arte toda atividade humana.
Desenvolvida por diferentes razões, seja a partir da necessidade de algum
utensílio, seja por crenças mitológicas, seja por vontade de adornar objetos,
lugares, pessoas ou até mesmo pela simples vontade de criar algo à partir da
imaginação, a arte busca atender a diferentes finalidades, das mais simples às
mais elaboradas ou nobres, e por isso mesmo constitui “um dos aspectos mais
ricos e significativos da produção humana” (PROENÇA: 10).
Segundo E. Fischer, em “A necessidade da
Arte” (p. 42), cabe citar, “o primeiro a fazer um instrumento, dando nova forma
a uma pedra para fazê-la servir ao homem, foi o primeiro artista”. Encontraremos
exemplos práticos interessantes, dessa produção, nos períodos pré-históricos Paleolítico
e Neolítico, à partir dos quais a história da arte ocidental é contada,
seguidos das artes egípcia e grega. Essas últimas compõem o que podemos chamar
de mentalidade clássica na arte ocidental e em períodos posteriores, como no
Império Romano e, séculos mais tarde, na Renascença italiana, esse estilo e
mentalidade, clássicos, servirão de grande inspiração, em torno dos quais se
edificarão sistemas e escolas que se debruçarão no projeto de resgatar seus
princípios.
Mas antes de falarmos da arte clássica, convém
abordar, brevemente, alguns detalhes dos períodos Paleolítico e Neolítico,
ilustrando, de certo modo, o que Fischer quis nos dizer.
O homem, ser frágil, facilmente vencido
pelas forças da natureza, teve sempre que preocupar-se em produzir artefatos
para, se não dominar, ao menos tentar transformar o meio natural, criando
instrumentos e aperfeiçoando-os, de modo que estes lhe pudessem auxiliar em seu
quotidiano ou mesmo ajudá-lo a sobreviver, propriamente dito. Contudo, esta não é a única finalidade visada
pela produção artística, como podemos
constatar já na Pré-História. Esse período, que é anterior à escrita, não nos
deixou documentos, entretanto, são os objetos e imagens (como as pinturas nas
cavernas) deixados por ele que nos contam sua história.
É no período chamado Paleolítico Superior (cerca
de 30.000 a.C.) que os pesquisadores registram as primeiras manifestações
artísticas, como é o caso, por exemplo, das cavernas de Lascaux e Altamira,
situadas respectivamente na França e Espanha. Essas manifestações ainda são
muito simples, consistindo em traços ou as chamadas “mãos em negativo” (PROENÇA,
p. 11), surgindo somente mais tarde desenhos e pinturas de animais, nas paredes
das cavernas. Aí, já encontramos uma vontade de mímese e um naturalismo na
produção artística, tão perseguidos e aperfeiçoados, posteriormente, pelos
gregos. Pintava-se, então, os seres, os animais, reproduzindo-se a natureza tal
como se a via. Sobre os motivos que os levavam a produzir essas imagens, a
explicação mais comum atualmente é a de que essa arte era feita por caçadores e
constituía um processo de magia, onde aquele que produziu a imagem supunha ter
sobre ela certo poder.
Já no período Neolítico (cerca de 10.000
a.C.), último período da Pré-História e já mais próximo da civilização egípcia,
passou-se a construir armas e instrumentos com pedras, a partir do atrito. Além
desse aprimoramento técnico, “o acontecimento mais significativo” (idem, p. 13)
deste período foi o início da agricultura e da domesticação de animais, o que
significa que a vida antes nômade, torna-se mais estabilizada, fixa. O homem do
Neolítico desenvolve a técnica de tecer panos, fabricar cerâmica e construir as
primeiras moradias – conquistas técnicas que terão desdobramentos importantes
na arte egípcia, como veremos. Além de desenhos e pinturas, o artista do
Neolítico produzirá esculturas em metal representando a vida coletiva, como é o
caso dos guerreiros, as mulheres e outras figuras sociais. É também nessas
sociedades que surge a primeira forma de escrita - a pictográfica - à partir
dos desenhos realizados nas paredes das cavernas.
Exposto isso, podemos realizar um salto
para a arte egípcia (cerca de 3.000 a.C.). Situada em uma das principais
civilizações da Antiguidade, com uma organização social bastante desenvolvida e
realizações culturais bastante ricas, a arte egípcia nos deixou vastos
registros de seu tempo, sobretudo, por já possuir uma escrita bem estruturada.
O aspecto mais característico da cultura
egípcia é a religião. Tudo no Egito era orientado por ela e com a arte não foi
diferente. A religião, que justificava toda a organização social e política, é
o que orientou a produção artística desse povo. Havia a crença de que as preces
e os ritos religiosos podiam assegurar a felicidade na vida mundana e mesmo no
pós-morte, além de influenciar em fenômenos da natureza, como a fertilidade do
solo ou o problema das enchentes (idem, p. 15).
Crendo em uma vida após a morte, essa
sociedade desenvolveu seu fazer artístico voltado para, de um lado, os túmulos,
sarcófagos e estatuetas (para o “além-morte”), além de construções mortuárias
e, de outro, a demonstração de poder, isto é, os grandes monumentos, que
serviam para atestar a grandiosidade do poder político (e religioso também) do
faraó. (A sociedade dividia-se, grosso modo, entre os faraós, nobres e
sacerdotes de um lado e os comerciantes, artesãos e camponeses, do outro. Às margens
encontrava-se a maior parte da população: os escravos).
Entre as obras arquitetônicas mais famosas,
e que servem de demonstração de poder, podemos citar, ao lado de estátuas
gigantescas e imensas colunas, as pirâmides de Gizé, tendo a maior delas – Quéops – quarenta e seis metros de
altura, além da Esfinge do faraó Quéfren,
a mais famosa do Egito (ambas do séc. XXVII – XXVI a.C.).
Por servir de veículo para a difusão dos
preceitos e das crenças religiosas, a arte egípcia era inteiramente padronizada,
não dando abertura à criatividade ou imaginação. Deste modo, os artistas
egípcios eram anônimos e sua obra não constituía (não pretendia ser) “arte”,
mas sim técnica, apenas; na pintura, por exemplo, seguia-se regras rígidas,
como a “lei da frontalidade”, tão característica na arte egípcia. Com isso, os artistas não desenvolviam um
estilo pessoal e nem podiam aproximar-se de uma reprodução naturalista do
mundo; a convenção era, ao contrário, de que a arte deveria ser mera
representação, sem pretender buscar uma “ilusão de realidade”, seguindo, pois,
a padrões rígidos de uma arte idealista. Em uma palavra, o convencionalismo das
técnicas na produção artística egípcia restringia-se a representar a aparência
idealizada (e não propriamente real) dos seres.
O Egito foi invadido sucessivas vezes por
outros povos, como os etíopes, os persas, os gregos e os romanos e isso vai
desorganizando sua sociedade e, por consequência, também a sua arte que, sob
influência dos povos invasores, vai se alterando gradativamente e perdendo sua
originalidade.
Seguindo, a princípio, os preceitos da arte
egípcia, contudo afrouxando o convencionalismo estabelecido por ela, serão os
gregos que darão impulso à próxima “etapa” importante na história da arte
ocidental e que sedimenta o que chamamos de mentalidade clássica. Dentre os
povos da Antiguidade são eles que apresentaram uma produção cultural “mais
livre” (idem, p. 27). Em consonância com sua crença de que o homem é a criatura
mais importante do universo, e com sua filosofia de que o conhecimento (razão)
está acima da fé, os artistas gregos não submeteram-se à autoridade de reis ou
sacerdotes. Assim, embora os gregos tenham ficado admirados ao entrar em
contato com a arte egípcia (com a intensificação do comércio, as cidades-Estado
acessam as culturas do Egito e do Oriente), sua produção artística trilhará
caminhos diferentes. O artista grego, nos diz o historiador da arte E. H. Gombrich,
“não se contentou em obedecer qualquer fórmula [...] e começou a fazer suas
próprias experiências [...] queria saber como ele iria representar um determinado corpo” (p. 48). Dito de outro
modo, o idealismo da arte egípcia dará lugar a um realismo e no lugar da
religiosidade, de uma arte voltada para o “além” (tão privilegiado pelos
egípcios), a arte grega voltará-se, sobretudo, para a beleza e para a vida
presente.
No período Arcaico (séc. VIII – VI a.C.),
os gregos começam a esculpir em mármore grandes figuras humanas (a escultura,
vale lembrar, é a produção artística privilegiada nesse período). Já sabemos
que esses escultores partem de princípios egípcios (idem, p. 48), mas, enquanto
os egípcios buscavam a simples retratação de um homem, para o grego, ele tinha
que ser, também, um objeto “belo em si mesmo” (PROENÇA, p. 28), como podemos
ver nos chamados kouros (que
significa “homem jovem”).
Escultura - classicismo grego |
A maior descoberta, que foi um “tremendo
momento na história da arte” (GOMBRICH, p. 51) foi feita pelos pintores por
volta de 500 a.C.: trata-se do escorço, o ato de pintar um pé “tal como é visto
de frente”. Daí vem o obsessivo aperfeiçoamento da estética grega, “pintar as
coisas como são vistas”, especialmente no período Clássico (Séc. V – IV a.C),
considerado o apogeu das atividades intelectuais, artísticas e políticas da
cultura helênica. Essa busca por um naturalismo maior e, portanto, uma leveza
maior na produção estatuária, leva os artistas a substituírem o mármore pelo
bronze (menos duro e mais resistente).
Ainda sobre a evolução, inédita, ocorrida
entre os gregos, destacam-se também os campos da ciência e da filosofia, que,
certamente, exercerá influência no campo artístico. Gombrich nos diz (p. 52):
“A grande revolução da arte grega, a
descoberta das formas naturais e do escorço, ocorreu numa época que é, de todo
em todo, o mais assombroso período da história humana. É a época em que o povo
das cidades gregas começou a contestar as antigas tradições e lendas sobre os
deuses, e a investigar sem preconceitos a natureza das coisas”.
Acerca disso disso, acrescenta o autor,
“foi no período em que a democracia ateniense atingira seu nível mais elevado
que a arte grega chegou ao apogeu de seu desenvolvimento” (idem). Tudo isso nos
ajuda a compreender esse fenômeno, ocorrido na Grécia, chamado por Gombrich de
“O Grande Despertar” (os cem anos que decorrem entre 520 e 420 a.C.). Em A. Hauser,
outro importante historiador da arte, o mesmo período é chamado de “A Era do Iluminismo
na Grécia” e, a respeito das principais transformações na dimensão estética,
ele diz (p. 90):
“À medida que o século V a.C. se aproxima
do fim, os elementos naturalistas, individualistas e emocionais de sua arte
ganham extensão e importância cada vez maiores. Ocorre uma mudança de ênfase do
típico para o particular, da concentração para a diferenciação, do comedimento
para a exuberância”.
Ao lado das esculturas, destacam-se também
a produção arquitetônica, seus templos e suas colunas. Essas edificações foram
construídas, não para cultos religiosos, como nos egípcios, mas para proteger do
sol e da chuva, as esculturas de seus deuses. Os frontões, espécie de telhado
que serviam para cobrir os templos, eram imensamente ornamentados com
esculturas e também se destacam na arte grega clássica, além dos vasos e a
pintura em cerâmica, que serviam para rituais religiosos, mas também para
armazenar coisas como água, vinho, azeite e mantimentos. Esses vasos mais tarde
passam a ser, com o trabalho de pintura que o decora, também um objeto
artístico; suas pinturas representam cenas do quotidiano e cenas mitológicas,
como é o caso do Vaso François, de
Clítias (550 a.C.).
Os gregos irão aperfeiçoar essa pintura dos
vasos. Se inicialmente a silhueta das figuras eram pintadas em negro sobre a
cerâmica, mais tarde o pintor observa que esta ganharia maior vivacidade, ou
seja um realismo maior, se o esquema das cores fosse invertido: deixando as figuras na cor natural do barro e
pintando o fundo de negro. São atitudes como essas que constituem e fundamentam
o estilo clássico na arte ocidental: o aperfeiçoamento contínuo na
representação expressamente mimética. A busca incansável pela verossimilhança,
o forte desejo de naturalismo - marca principal da mentalidade clássica – é o
conceito chave de representação trazido pelos antigos e essa estética, que
Gombrich (p. 46) chama de “O milagre grego”, deixou o legado essencial,
fundamentando a arte ocidental até hoje, embora tenha sido contestada paulatinamente
pelos modernos.
O período helenístico (séc. III a.C.)
remonta à história de Alexandre Magno, que construiu um enorme Império
constituído de várias cidades-Estados da Grécia e que, com sua morte,
fragmentou-se em vários reinos, significando enorme mescla cultural naquela
região, pela junção dos valores gregos com os orientais. Esses povos e suas
culturas, tão híbridas (daí o “ecletismo” que marcará forte presença no império
romano), são chamados de helenísticos e duram até a conquista final de Roma.
Embora esse acontecimento - o desaparecimento da pólis grega e sua independência, convertidos agora em reinos -
signifique profundas alterações para a arte grega, um “crescente naturalismo”
continua em vigor (GOMBRICH, p. 54).
Nas esculturas do séc. IV a.C., o ser
humano passa a ser representado segundo suas emoções e estado de espírito.
Surge, nesse período, também o nu feminino, como é o caso de Afrodite, de
Praxíteles (cerca de 370 a.C.). Esses artistas do período helenístico
acrescentam uma visível sensualidade à escultura, e mesmo uma dramaticidade que
antes não se via (um soldado que carrega sua mulher desencarnada, uma mulher
com asas abertas, indicando o desejo de vitória e outros - peças que falam,
enfim, de “vida e morte, força e debilidade, nu e vestido”, e outros
“contrastes”) (PROENÇA, pp. 34-35).
Outro aspecto relevante do período
helenístico que reflete na arte grega, importa citar, é o sentimento
individualista que a destruição da ideia de pólis
acarretou para os novos cidadãos. Vivendo em reinos e não mais comunidades,
os gregos deste período substituem o sentimento de cidadão por “sentimentos
individualistas”. O reflexo disso na arquitetura, por exemplo, é que, a partir
do séc. IV a.C., as moradias, antes modestas, passam a receber mais cuidado e
ganham mais espaço e conforto – essa mudança também ocorre nos teatros, não só
em sua arquitetura, como na primazia, que antes era do coro (coletividade) e
agora é dos atores (individualidade) (PROENÇA, p. 36). Esses e outros
acontecimentos na Grécia antiga, conclui-se, são de expressiva relevância e
significam desdobramentos para a arte que perdurarão por séculos.
É a cidade de Atenas, segundo Gombrich (p.
48), “a mais importante na história da arte”, ele diz: “Foi aí, sobretudo, que
a maior e mais surpreendente revolução em toda a história da arte produziu seus
frutos” (idem).
Com respeito a estética nascida nesse
ambiente, A. Hauser (p. 81), apresenta uma opinião semelhante, ao nos dizer que
“o século V a.C. é uma das épocas da história da arte em que se realizaram as
conquistas mais importantes e fecundas no campo do naturalismo”.
Apreciado por todo o Ocidente, o legado da
arte grega perdurará no mundo das artes por longos séculos. Em sua obra célebre,
Reflexões sobre a arte antiga, J. J. Winckelmann (1717-1768), o historiador de arte alemão e
entusiasta da estética Neoclássica, que admirava a “nobre simplicidade e a
serena grandeza das estátuas gregas” (p. 55) chega a afirmar, dois milênios
mais tarde, que “o estudo das obras da Antiguidade” seria “o caminho mais
curto” para se apreender a natureza e conhecer o belo perfeito (p. 47), isto é,
seria mais eficaz do que observar a própria natureza e que “um trabalho bem
sucedido” deve estar “em conformidade com o gosto genuíno da Antiguidade” (p. 63).
Esse modelo de arte clássica mudará somente
quando Roma se tornar “a senhora do mundo” (GOMBRICH, 1988: 52). Os romanos
mais interessados em narrar suas proezas e conquistas adotam, no lugar dos
ideais de imitação fiel, as ideias de clareza e simplicidade (a utilidade). A
religião se beneficiará fortemente do novo ideal: tendo como primado as
preocupações espirituais e a necessidade de doutrinar um povo quase completamente
analfabeto, ela se utilizará das imagens para realizar os ensinamentos, isto é,
para narrar as passagens bíblicas, de modo que as pinturas, diz Gombrich (idem,
p. 54), se convertem em escrita.
Os métodos de representação serão, portanto,
mais simplificados, limitando-se ao simbólico e deixando o realismo em segundo
plano.
Até o século IX a cultura greco-romana
desaparecerá da Europa Ocidental; a evolução das artes e da cultura nesses
séculos, diz o autor, é “praticamente nula”. É somente no período gótico, por
volta do século XIII, que reaparecerá o interesse em buscar um realismo maior,
“preparando” assim o resgate da arte clássica, que será virogosamente
empreendido pelo Renascimento. (idem, p. 59).
Ao observar os sistemas artísticos egípcio e grego,
notamos que as dicotomias ou os contrastes que veremos seguir por toda a história
da arte pouco variaram: realismo ou idealismo; foco na fé ou na razão; neste
mundo ou no chamado pós-vida ou mesmo o clássico binômio “razão x emoção”. Em
outras palavras: as sedimentações e as reações que se darão em toda a história
da arte ocidental, nos parece, giraram sempre em torno do mesmo eixo, em torno desses
aspectos e dessas dualidades, fundadas na mentalidade clássica.
Cada período contribui ao seu modo,
particular, não tratando-se exatamente de rupturas, mas de refinamentos; é
nesse movimento, podemos pensar, ora suspendendo, ora retomando determinadas
práticas, que se forma a história, não só a da arte, como podemos ver através
dela própria, mas para além disso a história da humanidade.
Nos chama atenção a constatação de fatos
ocorridos na cultura clássica - base da cultura ocidental – que voltam, como
lampejos, a ocorrer em outros momentos no curso longo da história. Podemos
pensar que os gregos, isentos de uma rigidez ou mesmo uma prescrição religiosa,
desenvolvem sua pesquisa estética com maior liberdade, atingindo níveis de
elaboração muito avançados em relação aos egípcios. É curioso notar que isso
também explica o paisagismo avançado dos países nórdicos da Europa (já nos
séculos XVII e XVIII) em relação a outros países cuja produção artística esteve
a serviço da igreja; curioso, não só por apresentar o fato como uma ocorrência
cíclica, mas também por sugerir-nos que em ambos os casos a religiosidade parece
mostrar-se, em certos aspectos, como um entrave na evolução estética, ao
privilegiar o “além-mundo” (como diria Nietzsche), em detrimento do momento
presente, ainda que haja, é irrefutável, inúmeras contribuições para a arte,
advindas deste mesmo ambiente religioso.
O mesmo ocorre com o movimento
impressionista. Ao desprender-se dos cânones historicamente seguidos, assim
como os gregos passaram a representar a vida quotidiana (ao contrário dos
egípcios, que privilegiam a representação de deuses e faraós), os jovens
franceses substituem os deuses e nobres da pintura romântica pelas cenas triviais
e os homens comuns, realizando, assim, uma inovação de mesma ordem. Tudo isso
nos mostra, enfim, ocorrências da Antiguidade, isto é, da mentalidade clássica,
repetindo-se ciclicamente em todos os tempos.
Esses e outros fatos, com efeito,
corroboram a ideia da cultura clássica helênica como a base ou “o berço” da
civilização ocidental. Nossa impressão é
confirmada pelas palavras de Hauser (p. 92) que, referindo-se aos gregos, nos
diz: “A cultura ocidental, que se baseia na autoconsciência, auto-observação e
na autocrítica, promana desse conceito de educação”. Mas, para além disso, à
partir dessas associações, históricas, ficamos tentados a dar um passo ainda
mais largo e assumir que a história da arte, nos conduzindo sempre a reflexões (inevitavelmente)
de fundo filosófico, parece nos sugerir, e para citar Nietzsche mais uma vez
(que era entusiasta da cultura helênica), o “eterno retorno” de que se
constitui a história humana (nos comportamentos, nos fatos e nas reações, nos
desejos e nas buscas, etc), conduzido pelos incessantes movimentos cíclicos que
a história nos apresenta para, sobretudo, nos confirmar a transitoriedade e a
impermanência de todas as coisas, vidas, sociedades, projetos e pensamentos -
todavia, não sem fazer saltar aos olhos o tremendo valor, ao final, desses
efêmeros instantes para a constituição do todo e do atemporal.
Bibliografia:
FISCHER, E. A necessidade da Arte. São Paulo, LTC,1987.
GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara, 1988.
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. S. Paulo, Martins Fontes,
2003
PROENÇA, G. História da Arte. São Paulo, Ed. Ática, 2001.
WINCKELMANN J. J. Reflexões sobre a arte antiga. Porto Alegre, Movimento, 1975.
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